
🎮📱Quando o tempo do sujeito é sequestrado pelas telas — e devolvido em forma de diagnóstico🤖👾
Vivemos cercados de telas. São elas que embalam o sono, ocupam os silêncios e distraem a espera. Crianças deslizam os dedos antes de aprender a amarrar os sapatos. Adultos respondem mensagens enquanto fingem estar presentes.
Tudo pulsa em velocidade: um vídeo de quinze segundos, uma emoção de três.
Julieta Jerusalinsky chamou de “intoxicação eletrônica” essa colonização silenciosa do tempo subjetivo — quando a tecnologia não apenas ocupa o espaço, mas o ritmo do pensamento.
A infância, que antes se desenrolava entre pausas, tédios e brincadeiras, passa a ser atravessada por estímulos contínuos, instantâneos, pouco elaboráveis. O sujeito vai sendo moldado na lógica da resposta imediata — antes mesmo de poder desejar.
Nas redes, chamam isso de “brain rot” — a “podridão cerebral” do consumo infinito e desatento. Um nome provocativo para um fenômeno real: a erosão da capacidade de sustentar o vazio, de esperar, de imaginar. Mas o que se apodrece não é o cérebro — é o tempo psíquico. Aquele intervalo entre o que se sente e o que se entende.
E é nesse cenário que cresce, vertiginosamente, o número de diagnósticos.
Crianças agitadas, com frases entrecortadas, jargões de memes ou vídeos aparentemente infantis, intolerantes a qualquer frustração. Adolescentes que se distraem, sem ânimo, alguns com dificuldade para sustentar um laço com o outro. Adultos cansados da própria dispersão.
Mas talvez o que chamamos de “déficit” seja, em parte, o efeito colateral de uma cultura que não suporta a pausa.
Se tudo à nossa volta exige resposta instantânea, que lugar sobra para a atenção profunda?
Se o mundo é uma linha contínua de estímulos, que espaço resta para o pensamento?
Há, claro, casos em que o diagnóstico é legítimo e precisa de cuidado clínico e tratamento responsável. Mas há também um diagnóstico social, uma espécie de “Transtorno cultural”, que não nasce do cérebro, e sim do ambiente — das notificações, da aceleração, da falta de silêncio.
Um diagnóstico que captura o sintoma de uma época e o transforma em patologia individual.
Talvez devêssemos escutar esse sintoma como um grito do tempo psíquico pedindo ar.
Menos diagnósticos apressados, mais tempo de vínculo, de presença, de olhar.
Porque o que está em risco não é apenas a atenção — é o modo de existir em presença.
Reencantar o tempo, desacelerar o olhar, restituir o espaço do jogo, da palavra e do encontro — talvez seja aí que o sujeito possa, novamente, respirar.

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