As relações, cada vez mais, oscilam entre dois polos: intensidade demais ou ausência absoluta. Fala-se muito e escuta-se pouco. Projeta-se demais e sustenta-se de menos.
Há um mal-estar que não tem um nome único. Ele aparece como ressentimento que cresce no silêncio, como a espera de uma mensagem que não vem, como o medo de incomodar ao dizer algo simples.
Ele também aparece nos ambientes de trabalho: em reuniões onde todos estão presentes, mas ninguém está junto. Na sensação de que tudo é urgente — menos o que se sente.
Talvez por isso se veja tanta dificuldade em construir laços que sobrevivam ao tempo, ao conflito ou ao tédio.
Não é raro que vínculos terminem não por excesso de dor, mas por incapacidade de elaborar as pequenas fraturas do cotidiano.
O sofrimento, nesses casos, não vem em forma de colapso. Ele se infiltra aos poucos — nos gestos automáticos, nas respostas rápidas, nas desistências silenciosas.
Há algo de profundamente político e existencial nessa lógica: fomos treinados para sermos funcionais, não para sustentar afetos.
Talvez seja esse o traço mais angustiante da vida contemporânea: a convivência com o outro se tornou, paradoxalmente, um lugar de solidão.

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